Um simples “sim” pode mudar não apenas a vida de quem o pronuncia, mas também a de muitas outras pessoas. Um sim autêntico, dado com o coração, carrega dentro de si uma força transformadora, uma entrega que ecoa através do tempo e do espaço.
O primeiro e mais fundamental sim é aquele dado no coração de uma família. O sim ao outro que permite a existência de novas vidas, a construção de laços, o crescimento mútuo. Um homem e uma mulher que decidem se unir em matrimônio dizem sim um ao outro, mas também dizem sim às renúncias diárias, ao compromisso, à vida que se multiplica. Quantos nãos são necessários para sustentar esse sim? O não ao egoísmo para cuidar do outro. O não às comodidades individuais para assumir responsabilidades em conjunto. O não ao imediatismo para construir algo que resista ao tempo. Se no início da vida a dois há certas renúncias: deixar o conforto da casa dos pais, aprender a dividir, abrir mão de escolhas individuais pelo bem do casal, quando os filhos chegam, os “nãos” se multiplicam. O não a noites inteiras de sono para acudir um bebê que chora. O não a viagens espontâneas para garantir a segurança moral e espiritual dos filhos. O não ao lazer despreocupado para assumir a responsabilidade de educar. O não ao consumismo desenfreado para prover uma vida simples e digna. Dizer sim à vocação familiar é, diariamente, dizer muitos “nãos”.
Há aqueles cujo sim os conduz por outro caminho, um caminho de renúncia total ao mundo para servir a Deus e aos outros de maneira oculta e silenciosa. O sim de uma freira no claustro, que se esconde do mundo e consagra sua vida em oração e sacrifício. Ela não verá os rostos daqueles por quem reza, não ouvirá seus agradecimentos, não terá qualquer laço afetivo com os beneficiados por sua intercessão. Mas, mesmo assim, permanece fiel ao seu chamado, sustentando espiritualmente aqueles que estão no mundo. Dia após dia, numa rotina inquebrável e para muitos insustentável. Seu sim sustenta almas, ilumina nações e enfrenta batalhas invisíveis que transformam o mundo.
O sim dos religiosos e religiosas consagrados, que vivem sua vocação nas mais diversas realidades. Evangelizam com o sorriso, com a presença, com a escuta, com o estudo e com a formação. Têm suas dificuldades e desafios, mas persistem, pois seu sim não foi um impulso passageiro, mas uma entrega definitiva. Quantos “nãos” disseram para viver esse sim? O não a constituir uma família própria para pertencer à família de Deus. O não a possuir bens materiais para viver a pobreza evangélica. O não à busca de reconhecimento para servir no anonimato.
O sacerdócio é um sim solitário e exigente. Um padre renuncia a muitas coisas: o não ao descanso para atender um enfermo de madrugada. O não ao tempo livre para preparar homilias e formações. O não ao conforto para servir onde for necessário. Vive para renunciar a si mesmo para ser um outro Cristo.
O sacerdote missionário, por sua vez, carrega um fardo ainda maior. Ele parte para terras desconhecidas, longe de sua família, longe da cultura em que cresceu. Aprende novas línguas, sofre perseguições e privações é enviado para um lugar onde ninguém o espera. Seu sim, não é apenas um compromisso, mas uma entrega total, um abandono confiante à vontade de Deus.
O que significa dizer sim? Significa ter a coragem de dizer muitos nãos. Na vocação familiar, religiosa ou sacerdotal, o sim verdadeiro é sustentado por uma sucessão de nãos diários. A verdadeira liberdade não está em fazer o que queremos, mas em encontrar Deus na renúncia, por isso não é um ato isolado, mas uma escolha contínua, um sacrifício constante, um amor que se renova a cada dia. É fácil dizer sim quando ele traz conforto, quando ele se encaixa em nossos planos. Mas o verdadeiro sim, aquele que muda o mundo de uma pessoa é aquele que exige renúncia, sacrifício e perseverança. E, no fim, é esse sim que nos torna verdadeiramente livres.
Reconhecer os nãos e o sacrifício do sim nos ajuda a pedir a Deus um coração grato. Parafraseando um grande Santo Doutor da Igreja: “Me destes tantas coisas, Senhor. Dai-me também um coração grato.”
Diante disso, devemos nos perguntar: quantos nãos foram necessários para que eu estivesse aqui? Quantos sacrifícios ocultos moldaram minha vida? Tenho coragem de renunciar ao conforto para abraçar a missão que me cabe? Sei reconhecer os pequenos sacrifícios diários que dão sentido ao meu caminho? Meu sim a Deus é pleno, ou ainda o divido com hesitações e medos? Como posso fortalecer minha fé e minha coragem para seguir o que Deus espera de mim? Que São Gabriel e Nossa Senhora da Anunciação intercedam por nós, para que possamos dizer sim à nossa vocação de minuto em minuto, com a mesma fidelidade e entrega que transformaram a história da salvação.
Respostas de 7
Um verdadeiro SIM é sustentado por muitos nãos, muitas renúncias e lágrimas.
Artigo lindo e profundo, as palavras cravaram em meu coração.
Em cada frase se vê conformidade, resignação e o sinal fecundo do amor purificado.
D. Ingrid, obrigada pelo artigo! A leitura fez enorme bem à minha alma.
Que texto, Meu Deus! Que texto!
“o verdadeiro sim, aquele que muda o mundo de uma pessoa é aquele que exige renúncia, sacrifício e perseverança. “
Que texto magnífico! Um alento à alma!
Obrigada por ter se doado para escrever estas verdades.
E quantos Sims também temos quando dedicamos a missão?
O sorriso do filho, uma comunidade do sacerdote encontrada c Deus e por aí vai. Os frutos deste vários sims são muito bonitos.
Quantas palavras profundas e penetrantes..
“Quantos nãos são necessários para sustentar esse sim?”
Que eu saiba, Senhor, dar os nãos necessários que sustentam o SIM a Ti! 🩷
Texto maravilhoso e profundo.
Dizer sim significa ter a coragem de dizer muitos nãos.