São seis da manhã, o despertador toca. – Preciso levantar! Faço meu sinal da cruz, entrego o meu dia ao Senhor dele. Rapidamente já me recordo de tudo que preciso fazer hoje, além de todas as funções habituais: é dia de lavar roupas e levar as crianças ao médico.

Levanto, tomamos nosso café e logo em seguida é hora da atividade das crianças. Já são dez da manhã. – Meu Deus, como passou rápido! Preciso colocar a roupa na máquina. Mas, espera! Posso dar uma olhadinha no celular antes.

– Que delícia, a Lúcia está viajando. Quisera eu estar também!

E lá se foram 20 min, de olhadinha em olhadinha, de vida em vida, como uma vitrine de partes do mundo, onde são exibidos apenas o que querem que seja visto.

Lembro-me então das roupas, e de peça em peça, me recordo da viagem da Lucinha.

– Ah! Como eu queria estar lá, mas sabe Deus quando vou conseguir. A mim me cabe roupas, panelas, fraldas e mais roupas. Triste e cansativa realidade!

E lá se foram 20 min do seu tempo e, mais tantos outros, consumindo sua energia e imaginação. A “olhadinha” no celular não te custou apenas o seu tempo, lhe degenerou por dentro, arrebatou a sua ordem interior e exterior.

Aqui, o celular foi o ponto chave da sua distração, mas há tantas outras distrações, em sua maioria interiores, que te tiram a paz, roubam o seu silêncio, o foco e cuidado com a casa, seus filhos, trabalho – com aquilo que é vital e que você se propôs a fazer.

Cada um de nós temos uma “fala interior”, que é superior, em quantidade, a todas as palavras que oralizamos no nosso cotidiano. Essa fala, pode nos reerguer ou nos derrubar, dependendo de como a alimentamos e a conduzimos.

Os murmúrios, a raiva, a intemperança, os vícios, as nossas quedas em pecados repetidos, todos têm sua origem na nossa “fala interior”.

Vejamos, sua tristeza, infelicidade com a sua realidade, não provém de comparações que interiormente você faz dia a dia, enquanto está em seus afazeres domésticos ou trabalhando? Aquela raiva do esposo, ou da esposa, não provém das palavras duras que você imagina falar-lhe quando a/o encontrar? Aquele descontentamento com o que se tem, não é porque interiormente você fica pensando no que poderia ter e que por diversas razões não tem e tem medo de que nunca tenha? A sua
revolta por ter sido humilhado não é porque desejou com o coração e com as palavras interiores o reconhecimento ou aceitação deste mundo? A vergonha pelo erro cometido publicamente não é porque ficou imaginando o que os outros pensarão ou falarão de você?

“O meu reino não é deste mundo.” (Jo 18,36) Já disse Jesus.

Quantas distrações! Quantas distrações nos roubam do que precisamos ser. Cuidemos, pois, da nossa fala interior.

Atentemo-nos, todos esses maus frutos causados pelas nossas distrações – tristeza, infelicidade, falta de paz, revolta, ansiedade, falta de ordem e tantos outros, provém de uma fala interior materialista. E o que nos tira da matéria? – A oração.

Aumentemos, pois, a vida de oração e tão logo redirecionaremos toda a nossa fala interior para o bem mais alto, para o bem da alma, e assim colheremos bons frutos em nosso cotidiano, com os nossos familiares próximos e, venceremos os vícios e erros que temos tentado nos superar.

Interrompamos nossa fala interior decaída com jaculatórias, a todo o tempo – “Senhor, tem piedade de mim.” “Senhor, salvai-me de mim mesmo.” “Senhor, salvai-me da minha miséria.” “Socorrei-me.” “Doce coração de Maria, sede minha salvação.” E transformemos assim, o nosso dia em um grande clamor a Deus.

Os momentos de oração em meditação nos tirarão do anseio pelos bens materiais, prazeres e desejosas glórias deste mundo, e esses serão substituídos pelo desejo das coisas do céu, pelo bem e ordem da alma, pelo o que realmente importa, e isso nos bastará. As jaculatórias e súplicas ao Nosso Senhor e a Virgem Santíssima, por sua vez, nos ajudarão a interromper os maus pensamentos que emergem como um ladrão, querendo nos roubar daquilo que Deus deseja que eu seja. Neste caso, mãe, esposa e do lar com excelência, segundo o coração de Deus.

Seja qual for a sua vocação e estado de vida, não ceda a distrações, ore, pois o que Deus te chama a ser, em sua plenitude, não pertence a este mundo.

“Uma água turva e agitada não espelha a face de quem sobre ela se debruça. Se queres que a face de Cristo, que te protege, se espelhe em ti, sai do tumulto das coisas exteriores, seja tranquila a tua alma.” Santo Antônio