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Malefícios do uso abusivo de telas

 Crianças em idades cada vez menores têm tido acesso a tecnologias da informação e comunicação “que são usados pelos pais, irmãos ou família, em casa, nas creches, em escolas ou mesmo em quaisquer outros lugares como restaurantes, ônibus, carros sempre com o objetivo de fazer com que a “criança fique quietinha”. Isto é denominado de distração passiva, resultado da pressão pelo consumismo dos joguinhos e vídeos nas telas, e publicidade das indústrias de entretenimento, o que é muito diferente do brincar ativamente” de acordo com o Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital (2019-2021), da Sociedade Brasileira de Pediatria.

            Este estudo da Sociedade Brasileira de Pediatria enfatiza que “os primeiros 1000 dias são importantes para o desenvolvimento cerebral e mental de qualquer criança, assim como os primeiros anos de vida, a idade escolar e durante toda a fase da adolescência”. Nesta fase, diferentes estruturas e regiões cerebrais estão se estruturando por meio dos estímulos percebidos através dos sentidos do tato, visão, audição, olfato e paladar.

            Ao assistir a um vídeo, por exemplo, a criança está sendo exposta a uma série estímulos auditivos e visuais compostos por cores, imagens e sons de forte intensidade que provocam sensações afetivas e estão carregados de conceitos e informações. Este estímulo é intenso a ponto de alcançar a saturação dos sistemas sensoriais empregados na atividade, ou seja, o vídeo fornece mais estímulos do que a criança é capaz de absorver. Isto prejudica o processamento destes estímulos recebidos e também prejudica a percepção de outros estímulos externos ao vídeo em que a criança está focada. A criança fica com sua atenção completamente tomada pelo estímulo intenso do vídeo de forma que uma pessoa tem dificuldade de deslocar sua atenção para outro estímulo, como ao chamá-la pelo nome pedindo sua atenção.

            Esta saturação dos receptores sensoriais estimula inadequadamente uma região do cérebro chamada córtex cerebral, causando, a longo prazo, a diminuição de seu tamanho. Esta região do córtex cerebral é responsável pela capacidade de pensamentos, linguagem, julgamentos e percepções. Em especial, o córtex de uma região chamada pré-frontal é responsável pelas funções cognitivas e executivas como por exemplo o do controle dos impulsos, o julgamento, a resolução de problemas, a atenção, a memória e a tomada de decisões. A diminuição desta região do córtex cerebral tem como consequência o prejuízo destas funções descritas podendo levar a diversas limitações e doenças. Essa diminuição do córtex é uma condição encontrada também em estágios avançados de adultos com síndromes demenciais como no caso da Doença de Alzheimer. Ainda que a Doença de Alzheimer tenha outras causas, as alterações cerebrais encontradas são semelhantes às provocadas por esta superestimulação sensorial decorrente da exposição abusiva às telas.

            Crianças que ficaram passivamente expostas a telas, por períodos prolongados quando bebês apresentam atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem. O desenvolvimento precoce da linguagem e das habilidades de comunicação nas crianças são fundamentais para o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas. O estabelecimento das rotinas da vigília durante o dia e do sono durante a noite também são fundamentais para a produção dos hormônios necessários ao crescimento. O brilho das telas, devido à luz azul presente na maioria das telas contribui para o bloqueio da produção de melatonina, um hormônio do cérebro importante para o sono, contribuindo para dificuldades de dormir e manter uma boa qualidade de sono à noite na fase de sono profundo, com aumento de pesadelos, terrores noturnos e da sonolência diurna.

                  Os transtornos de sono são cada vez mais frequentes e estão associados a transtornos mentais em crianças e adolescentes como déficit de atenção e hiperatividade, problemas de memória e concentração com diminuição do rendimento escolar. Crianças pré-escolares com exposição de 2 horas diárias a telas, têm oito vezes mais chance de desenvolver transtornos do déficit de atenção e hiperatividade. Elas têm a atenção prejudicada e dificuldade em manter continuidade na percepção, com prejuízo na capacidade de reter o que é essencial e descartar o que é desnecessário. Quando mais velhas apresentam menor desempenho na matemática e na linguagem contrariando o mito de que as crianças expostas a esta estimulação exagerada se tornam mais inteligentes.

                A criança não tem maturidade para lidar com os impulsos produzidos e atribuir carga moral aos estímulos recebidos, sendo, portanto, mais suscetíveis a ficarem viciadas no uso de equipamentos de mídia. A estimulação provocada pela exposição a telas libera dopamina no cérebro, uma substância importante para os processos cognitivos do cérebro, como o aprendizado e a capacidade de atenção, e principalmente nas emoções, na sensação de motivação e prazer, participando do mecanismo de recompensa. O desequilíbrio da dopamina leva a pessoa a buscar estímulos progressivamente maiores para conseguir a saciedade desejada. O indivíduo é impulsionado a buscar repetidamente e de forma cada vez mais intensa as atividades que levam à liberação da dopamina, como ocorre no uso de drogas e de pornografia, caracterizando o vício ou dependência química.

                O mesmo processo de recompensa mediado pela dopamina que se dá em um adulto viciado em cocaína ou crack ocorre em uma criança exposta à estimulação provocada pelo uso abusivo das telas. As crianças manifestam como sintomas de abstinência a irritação com choros e birras quando impedidas de acessar os conteúdos desejados, com golpes contra a cabeça, batendo a cabeça na parede ou no chão e agressividade com os familiares ou cuidadores. A criança torna-se apática no convívio com os familiares, sem interesse em conversar com as pessoas, ler ou estudar. Estas atividades geram um estímulo muito fraco para elas, e tornam-se desinteressantes. Com a persistência deste tipo de estimulação a criança torna-se impulsiva e manifesta comportamentos automáticos, buscando nestes tipos de estímulos uma solução rápida para sentimentos perturbadores e emoções difíceis com as quais ainda não aprendeu a lidar.

              Portanto, os equipamentos de mídia geram um forte estímulo sensorial no indivíduo que o está manejando. As telas emitem luminosidade de forte intensidade, que, acompanhado do componente sonoro, são produzidas de forma a manter a atenção do espectador no conteúdo apresentado. Este estímulo gera uma forte reação no espectador, mediado por neurotransmissores como já comentado, que geram o vício pela vontade de prolongar e repetir a experiência de forma progressivamente mais intensa e prolongada.

               As mídias preenchem o tempo das pessoas servindo de ocupação para quem não tem o que fazer, como distração ou mesmo como artifício para pais ocupados, estressados ou cansados demais para dar atenção aos seus filhos, ou porque eles nem mesmo desgrudam de seus próprios celulares. Se este estímulo já gera dificuldades para adultos que acabam por ficar viciados e estão o tempo todo manipulando equipamentos como os smartphones acessando redes sociais ou permanecendo horas em frente a televisores assistindo a novelas, filmes, programas ou séries, quanto mais problemático é esta exposição a estes equipamentos para crianças e adolescente que não têm ainda a capacidade de discernir entre o que é certo ou errado, ficando este público mais suscetível aos malefícios da exposição prolongada a telas, sendo esta fase de maior impacto para o indivíduo por ser ainda um período de desenvolvimento neurológico. Quanto mais nova a criança, mais suscetível a ficar viciada nas mídias e maiores os prejuízos possíveis à sua estrutura neurológica e doenças decorrentes.

            As crianças, principalmente, precisam dos pais como mediadores entre elas e o que o mundo oferece. O conteúdo dos filmes, desenhos e jogos acessados pelas crianças estão frequentemente contaminados com imagens pornográficas, temas ideológicos que inclui ideologia de gênero, uso de drogas, violência, entre outros temas que visam desacreditar a estruturação familiar principalmente deturpando a figura dos pais e estimulando a comportamentos mundanos. Os pais têm por obrigação e devem manter o foco em apresentar aos filhos a beleza, a bondade e a verdade, protegendo-os destes conteúdos maléficos tanto para o corpo, como para alma, como para o espírito.


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