Em geral, para os orgulhosos é muito difícil praticar certos atos que aos humildes são naturais e até necessários. Por exemplo, louvar ou honrar os merecimentos dos outros ou manifestar gratidão pelos benefícios recebidos, pedir por suas necessidades, reconhecer e reparar suas faltas ou admitir e pedir perdão dos seus pecados. Em relação a Deus, isso é oração. O orgulhoso, por julgar-se autossuficiente, não reza. Ele se basta a si mesmo.
Ora, “quem reza se salva, quem não reza se condena”. Essa sentença do grande redentorista e doutor da Igreja Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787) resume a sua obra sobre a oração, “o grande meio para alcançarmos de Deus a salvação e todas as graças que desejamos”.
Nada existe de mais precioso do que a graça divina. Com uma frase sintética Santa Terezinha do Menino Jesus exprime a importância desse dom inestimável: “tudo é graça!”. Sem a graça nada temos e nada somos, é por meio dela que podemos tudo.
A GRAÇA
A Igreja nos ensina que a graça é um dom sobrenatural e gratuito de Deus, que eleva a criatura racional e a faz participar da natureza divina. Com a graça santificante que recebemos no batismo, passamos a viver da mesma vida de Deus, como seus filhos adotivos.
Ora, esse é um dom que não depende da nossa vontade nem dos nossos esforços naturais, mas apenas de Deus, que no-lo concede sem que possamos merecê-lo. Recebemos a graça por mera liberalidade divina, e não a podemos conservar ou acrescer sem o auxílio de Deus. Assim, para aderir ao bem ou nele perseverar, ou para aumentar em nós os dons sobrenaturais, dependemos inteiramente de Deus, das suas graças atuais.
Essas graças, é certo, nunca faltam a ninguém em quantidade suficiente. Porém, dada à condição em que nos encontramos, fragilizados pelas consequências do pecado original, graças suficientes apenas não bastam para nos mover ou para nos fazer perseverar no bem. Necessitamos de graças superabundantes.
Ora, essa graças Deus não as concede sem a nossa participação, ou seja, sem que as peçamos pela oração, ou sem que as busquemos nas fontes abundantes de graças que Jesus Cristo nos alcançou por seus méritos. Essas fontes são os Sacramentos – sobretudo a Sagrada Eucarística – e os tesouros sobrenaturais da Santa Igreja. É preciso que nos dessedentemos nas águas que jorram inesgotáveis desses canais de graças abertos por nosso Salvador.
AS PROMESSAS DE CRISTO E A ORAÇÃO
Disse o Divino Mestre aos seus discípulos: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). Sequer podemos começar ou ter o desejo de fazer o bem, diz o Apóstolo São Paulo (2 Cor 3,5). Essa verdade é incontestável. Porém, Jesus também nos prometeu: “Tudo o que pedirdes ao meu Pai, em meu Nome, Ele vo-lo concederá”. Portanto, como ensina Santo Agostinho, “a oração é uma chave que nos abre as portas do céu”.
Para obter as graças superabundantes de que necessitamos, é indispensável oração humilde, confiante e perseverante. Sem a oração, todos os nossos esforços serão vãos, e por isso quem não reza certamente se condena.
Aqui está o segredo, o grande tesouro para os que querem no céu gozar do convívio com Deus e com seus anjos e santos; e também a advertência aos que se julgam autossuficientes e não rezam, para que se deixem vencer pela humildade e fiquem devotos, e assim evitem a condenação eterna.
“O que podemos fazer de mais simples – pergunta Santo Afonso – do que rezar a Deus?”. Com quanta ternura devemos elevar o coração aos céus com amorosa confiança, e em Deus abandonar-nos; com quanta docilidade devemos ir até “nosso Pai que está no céu” para encontrá-lo em nossas alegrias ou nas aflições de alma, e gozar de suas consolações; com quanto enlevo devemos louvar a Deus em sua grandeza, agradecê-lo por seus benefícios e esperar sempre em sua bondade infinita! A esse hábito singelo o Senhor condicionou a salvação de cada um!
Cumpre rezar, e rezar bem para obtermos a salvação. E reza bem quem reza devotamente a Nossa Senhora, intercessora infalível que tudo obtém. A devoção a Nossa Senhora é meio seguro de salvação porque é um meio admirável de perseverança (TVD, artigo VIII, página 168). Quem reza a Ela não se perde, porque essa boa Mãe preserva e conduz os que lhe são devotos. Assim o declara São Luis: “As águas do dilúvio de pecados que afogam tanta gente, não lhes farão mal, pois: ‘qui operantur in me non peccabunt’ – os que se guiam por Mim não pecarão (Ecli 24, 30).
Sobre a oração, afirmou o grande líder católico Plínio Corrêa de Oliveira: “A oração é verdadeiramente um cetro posto na nossa mão. A bem dizer, nós governamos os acontecimentos com a oração. Se nós não tomarmos a sério essas verdades, por falta de espírito de fé, privamos de tesouros inestimáveis a Igreja” (Comentários ao Livro da Oração, 111, página 45). E ainda: “O corretivo verdadeiro para este estado de espírito, a fim de termos uma verdadeira confiança na oração, é a devoção a Nossa Senhora” (idem, 11, página 32).
Uma resposta
“Tudo é Graça!” Essas palavras ressoam no coração.