Paz sobre a terra, justiça e caridade!

“O Reino dos Céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam. ” Mt 11,12

Na juventude participei de um grupo de jovens que tomou esse versículo como fonte de inspiração e vigor. Os jovens falavam com bravura “somos os violentos” na caridade, na fé e na castidade (1 Tm 4,12). Época muito boa, diria até profética! Essas palavras ajudaram e prepararam esses jovens para as grandes lutas da vida.

De fato, ser católico exige violência! Somos a igreja militante que todos os dias combate contra o demônio, contra o mundo e principalmente, sobretudo, contra si mesmo.

Para ser fiel ao Amado é necessário segui-lo e seus passos indubitavelmente nos levam ao calvário. O calvário é o lugar da violência no Amor. Amar consiste em renúncia da própria vontade, amar significa dar de si mesmo, amar é morrer para que o outro tenha Vida.

Quem nunca se deparou com essa realidade?

Diante do cansaço, do sono, das enfermidades, das injustiças, das inúmeras tentações… Somos chamados a ferir a nossa carne, como o pelicano, para fazer o bem, dar o melhor a Deus e ao próximo.

E quanto é difícil ferir a própria carne! Dói, sangra, marca profundamente, deixa cicatriz.

Começa com as pequenas e frequentes mortificações do dia a dia como, por exemplo, limpar a sujeira que outra pessoa deixou, interromper ou atrasar a refeição para socorrer alguém, deixar de dormir ou de passear para ser fiel a vida de oração, perdoar uma ofensa, etc. Sendo fiel nas pequenas mortificações chegaremos às grandes que nos levarão ao ápice da paixão, o alto da cruz, onde deve se dar tudo, o Isaac que tanto amamos (Gn 22,2).   

Acho que essa história pode ajudar na reflexão: “Existe, em um país, uma ponte pênsil. São aquelas pontes que se levantam para que os navios possam passar. Ao lado do rio, passava também, debaixo da ponte, uma estrada de ferro. Perto da ponte, havia um farol. Se o farol estava verde, era sinal que o trem podia passar. Havia sempre um operador de plantão na ponte, para acionar as pesadas máquinas e levantá-la. Um dia, o operador levou para o serviço o seu filhinho de seis anos. O menino ficou brincando com uma bola, enquanto o pai trabalhava. De repente, apareceu no horizonte um trem. O operador deu o sinal verde. Mas, quando foi ligar as máquinas, viu o filho lá embaixo, entre as engrenagens, atrás de sua bola que havia caído. Gritar não dava mais. Neste momento, em um instante, o pai tinha de decidir: Se ligasse as máquinas, o menino na certa morreria esmagado pelas engrenagens. Se não ligasse, o trem se chocaria com a ponte, matando grande número de passageiros. Então, com o coração cheio de dor, ele ligou a chave. Mesmo nessa angústia, em meio as lágrimas, respondeu ao aceno do maquinista, como fazia sempre. ”

Quando escutei essa história comovente foi para explicar a atitude de Deus Pai ao sacrificar seu filho Jesus para nossa salvação mas penso que também pode representar a nossa decisão diária em aceitar sacrificar a nós mesmos por amor a Deus e por amor a todo corpo místico de Cristo, a Igreja, nossos irmãos. Esse operador feriu a si mesmo, com grande violência, antes de sacrificar o próprio filho.

Nossa militância até o céu deixará em nós muitas feridas, marcas de amor que não se apagarão. Cada cicatriz certamente será uma inspiração para darmos novos passos, com mais prontidão, com mais violência no amor.

Como Jesus ressuscitado mostrou as marcas de sua paixão nós também somos convidados a mostrarmos as nossas lembranças de amor.

“…por toda parte e sempre, levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifestada em nossos corpos. ” 2 Cor 4,10


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Respostas de 10

  1. Meu Deus que estória chocante, li e reli o texto e vejo só uma pessoa com a Fé elevada e justo para tomar tal decisão. Como mãe não sei se conseguiria tomar tal decisão aí vejo como minha Fé ainda é pequena como preciso me converter diariamente como preciso da unção do Espírito Santo diariamente em minha vida!

  2. “(…) pode representar a nossa decisão diária em aceitar sacrificar a nós mesmos por amor a Deus e por amor a todo corpo místico de Cristo, a Igreja, nossos irmãos.” Que Deus nos conceda a graça de amá-lo sem limites!

    1. A decisão está em nós, que reflexão bela e profunda…o servir é uma decisão…preciso pensar nisso todos os momentos dos meus dias.
      Obrigada Regiane precisava mesmo dessas palavras 🙏💕

  3. Um belíssimo texto com o conteúdo riquíssimo, você aprende a dar a vida pelo irmão, onde você deixa de pensar em si, e se doar inteiramente as necessidades dos outros… Às vezes nunca estamos preparados, mas Deus nos capacita a cada minuto para servi-los, basta abrirmos o nosso coração e compreender as vontades do senhor…

  4. Um texto lindo e belíssimo! Às vezes nos esquecemos de sacrificar a nossa vida por Jesus e pelo nosso irmão, o texto nos faz sair do comodismo e nos faz repensar: o que estou fazendo por amor a Jesus e por amor aos meus irmãos? Que Deus nos abençoe e nos capacite para que estejamos prontos ao seu chamado.

  5. Uma bela reflexão, assim como o Deus pai sacrificou seu filho Jesus para nos salvar, devemos também fazer o sacrifício de viver uma vida santa, de buscar a salvação, por mais que nos machucamos com violência em busca dessa santificação, mesmo que nos doa devemos nos sacrificar.

  6. Belíssima reflexão! Lembro que ainda jovens buscávamos a violência juntos e é o que nos dá base para quem somos na vida adulta,hoje.

  7. Que texto dona Regiane, que reflexão real e verdadeira!
    Meu coração doeu com a história do Pai e do filho. E é verdade, Nosso Senhor disse para sermos fiéis nas pequenas coisas. E por mais estranho que seja, as pequenas e constantes podem exigir de nós atos heróicos mais que as grandes e únicas que para muitos de nós nunca ocorrerão. Mas as pequenas, os incômodos diários para o bem do outro, suportar os contratempos e as inúmeras renúncias que ao longo do caminho vão aparecendo, essas sim são reais e verdadeiras.. é como “ser mártir da paciência e não da espada”, esse é um convite diário a todos nós.

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