Quem nunca ouviu a belíssima e encantadora oração de São Francisco de Assis, cantada ou rezada? É interessante observar como, para cada momento de nossa vida, um trechinho ou uma palavra dessa oração ressoa diferente… com mais profundidade, clareza e sentido.

Na frieza e indiferença generalizada em que vivemos, parece que essa frase cabe muito bem para uma reflexão: Compreender que ser compreendido…

Nossa! Que desafio! Não querer ser compreendido, mas sim dedicar-se em compreender.

O nosso eu, birrento, quer ser compreendido sempre e em toda situação. Como, com frequência, não o é, fica ferido e, com facilidade, pode chegar a revolta. Sente-se injustiçado, humilhado, desprezado e torna-se “a vítima.”

Realmente a incompreensão é muito sombria e dolorosa, mas pode ser uma preciosa oportunidade para nos unirmos ao grande incompreendido e humilhado Jesus. Como disse São Francisco: O Amor que não é amado!

São oportunidades que, por providência, nos tocam para que possamos amadurecer esmagando o orgulho, o egoísmo, o amor próprio e a vaidade. Saímos do centro e, como fez Jesus, colocamos o outro como o mais importante, o merecedor de nosso esforço, dedicação e compreensão.

Compreender o outro é olhar para além de sua exterioridade, ou seja, de suas ações e reações que muitas vezes podem desagradar e até nos deixar indignados. É alcançar as profundidades do coração e buscar as raízes de suas ações. É ouvir e olhar com real interesse pelo outro e não com o intuito de satisfazer os próprios desejos ou cumprir funções.

Recentemente escutei o seguinte relato e acho que pode ilustrar bem a reflexão: “Em um encontro da igreja conheci um casal de namorados que se diziam católicos, mas era estranho perceber que, a mulher apresentava uma postura de repulsa ao ambiente, às pessoas e até mesmo às celebrações religiosas. Ela claramente estava ali pelo namorado e não fazia questão de disfarçar. Era desagradável mesmo! Passado um tempo, depois de muitas conversas ou “tentativas de conversa”, eis que aparece por detrás das pedras “o tesouro” de seu coração. Essa mulher perdeu os pais quando tinha dez anos de idade e os pais, muito assíduos na igreja, faleceram justamente em um acidente que aconteceu em contexto religioso. Então, para ela era muito doloroso frequentar ambientes católicos. Com a graça de Deus, a compreensão e persistência do namorado, hoje eles estão casados, caminhando juntos na igreja e ela vive de forma exemplar sua fé católica. ”

Para melhorar nossos relacionamentos, seja na família, no convívio com os amigos de comunidade ou de trabalho, precisamos dar esse passo. Não cobrarmos das pessoas “a compreensão”. Na verdade, parece que as pessoas estão secas, como o homem da mão seca esperando que alguém o veja, lhe dê importância e o coloque no centro (Mc 3,1-6). Jesus não esperou ser compreendido para compreender a necessidade desse homem e de tantos outros apresentados nos evangelhos.

O Amável Jesus é sensível, é a bondade, sempre se adianta e nos chama para as profundezas (Lc 5,4), onde, envoltos Nele, podemos ver para além das exterioridades rasas e deformadas. Se ainda não conseguimos é porque, infelizmente, insistimos em ficar na margem, na superfície do amor, sendo movidos por todo tipo de agitação.

Contemplemos Jesus no alto da Cruz, todo chagado, olhando profundamente para nós… o que Ele vê? Depois, ouçamos Sua voz: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Em nossas realidades específicas, com seus desafios próprios, sejamos presença ousada de Jesus. Unamos nossas dores às Dele e peçamos A Graça para imitá-lo (Ef 5,1).

“Ó Mestre, fazei que eu procure mais… compreender que ser compreendido…”