Apesar dos esforços da revolução sexual que culminou na década dos anos de 1960 com o advento e amplo uso dos anticoncepcionais, em detrimento da família tradicional, tem-se tornado comum a presença de casais, jovens, com filhos e famílias numerosas nos ambientes católicos, fruto do ensinamento constante da Igreja. Porém, os desafios que estas famílias encontram, atualmente, têm algumas particularidades.
No livro do Gênesis há a narração da criação em que Deus criou os anjos, a luz, o céu, a terra, a água, os vegetais e os animais de forma esplêndida e viu que tudo era bom. Mas ao se referir à criação do homem, ele faz referência à sua própria imagem e semelhança, como dominador de toda sua criação material: Gn 1, 26-27 “Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher”. E lhes deu a ordem para gerarem uma numerosa descendência: Gn 1, 28 “Deus os abençoou: “Frutificai – disse ele – e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”. Portanto, o homem pode ser entendido como uma grande obra prima da criação divina, sendo que Ele próprio fez-se homem e experimentou a natureza humana na pessoa de Jesus Cristo.
Seria justo que, diante da magnificência de sua obra e de tamanho apreço por ela, Ele reservasse a si o poder de criá-la quando e quanto desejasse. Mas, tamanha é a generosidade e a bondade de Deus, que Ele quis partilhar com a própria criatura a alegria de poder gerar, a tal ponto que, para que Ele possa exercer seu poder e generosidade de gerar uma nova pessoa, Ele depende do consentimento e desejo do casal. Portanto, esse é o tamanho da responsabilidade dos casais no matrimônio, darem largas à generosidade divina, que é infinita. E esta deve ser a disposição dos casais no matrimônio tanto para obedecer-Lhe quanto para retribuir-Lhe a generosidade.
É compreensível que em determinados momentos da vida matrimonial seja necessário espaçar o nascimento dos filhos. Por exemplo, logo que um casal tem um filho, pode ser que lhes seja necessário um tempo para a adaptação com o novo filho no ambiente familiar e para o restabelecimento do organismo da mãe, principalmente em situações de doença; pode haver, na família, limitações econômicas ou emocionais que estabeleçam restrições para que o casal se abra para acolher mais um filho. Em casos assim, diante de motivos justos, é lícito e moral que o casal espace os nascimentos por algum tempo e por meio de métodos naturais que acompanham o funcionamento dos ciclos biológicos do organismo da mulher, utilizando os períodos infecundos para união íntima. Mas agora, que esta questão da generosidade da abertura à vida na geração dos filhos já não tem sido um problema para muitos casais, algumas destas famílias têm se deparado com outros desafios.
Com o uso dos anticoncepcionais e dos meios de esterilização definitiva, vasectomia e laqueadura tubária, nas últimas décadas ocorreu que muitos casais regularam arbitrariamente sua prole em um, dois ou três filhos quando muito. Ocorre que, para estes casais que chegam a ter no máximo três filhos, a escolha da via de parto entre parto natural e parto cesariana não traz grandes consequências. Mas, isso tem se tornado um desafio para os casais que não interrompem a fertilidade em 2 ou 3 filhos.
Ainda levando em consideração que, com a popularização do parto por cesariana, obteve-se muitos benefícios para a mãe e para a criança, como nos casos em que os processos de parto lhes colocavam a vida em risco, ocorreu, porém, que passou-se a utilizar dessa via de parto de forma muitas vezes desnecessária por uma conveniência tanto para o profissional quanto para a mãe.
Optando-se pela via de parto natural, antigamente, era comum casais com mais de dez filhos, sem encontrarem uma limitação decorrente da escolha da via de parto em si. Porém, o parto por cesariana traz certos riscos para mãe e para a criança não só no parto em si mas também nos partos futuros, de forma que não é viável a formação de uma família numerosa recorrendo-se repetidamente ao recurso deste tipo de parto.
Só o fato de uma mulher ter tido partos cesarianos repetidos já é um fator de risco em uma nova gestação. A mãe corre o risco de que a placenta fique aderida ao útero podendo causar sangramentos e infecções; que a placenta se fixe profundamente no músculo do útero, dificultando ou impossibilitando a sua remoção, o que pode levar à hemorragia e à necessidade de remoção do útero; o útero pode romper durante o trabalho de parto ou durante uma nova cesárea; o tecido cicatricial pode se formar entre os órgãos internos, causando dor, dificuldade de evacuação e dor durante a união íntima; a cesárea pode causar lesões na bexiga, intestino e outros órgãos; o risco de hemorragias aumenta com cada cesárea; a recuperação após uma cesárea de repetição pode ser mais demorada e complexa.
Portanto, em uma família aberta à vida e com disposição para formar uma família numerosa, a opção por um parto cesariano precisa estar em acordo com a sua estrita necessidade, pois a sua recorrência pode colocar em risco ou mesmo limitar esta disposição do casal. Estas famílias precisam de um aconselhamento adequado desde cedo para estarem atentas e preparadas para buscarem o apoio e os recursos necessários para favorecerem ao máximo a opção pelo parto natural.
Respostas de 2
Muito interessante esse aspecto da abertura à vida, como é uma bênção poder gerar almas para Deus!
Nossa que artigo necessário! Fenomenal! Porque muitíssimas mães com múltiplas cesárias sentem-se culpadas em usar métodos naturais de controle.