Como fora dito outras vezes, a vida intelectual requer muita dedicação, disciplina, métodos e sacrifícios, contudo, nada disso é tão importante se a alma não estiver voltada para Deus, isto é, se não houver vida espiritual. Ao longo das reflexões até aqui feitas, demonstrou-se como a moral e a disciplina são determinantes para a vida intelectual. No entanto, outro ponto que a de “fechar” essa tríade que sustenta verdadeiramente a vida intelectual seria a vontade.
A priori, para bem compreender a importância da vontade nesta esfera da educação, da intelectualidade, é importantíssimo reconhecer sua importância na vida espiritual, afinal, como fora dito acima, “nada disso é tão importante se a alma não estiver voltada para Deus”. Para uma boa vida espiritual, a vontade é o eixo que sustenta todos os propósitos humanos em relação a Nosso Senhor. Ainda que, naturalmente, haja a falha, porque somos pecadores, Nosso Senhor olha para nossa vontade, nossas intenções e, portanto, nossos esforços. Ele não precisa de nada disso para Si, afinal trata-se de Deus, Ato Puro; no entanto, Ele “precisa” de nossa disposição, de nossa abertura e de nossa vontade para que possa agir. Como diz o antigo provérbio latino: “Facienti quod est in se, Deus non denegat gratiam”, ou seja, “Deus não nega graça àqueles que fazem tudo o que podem. ” O que poderia ser este “tudo o que podem” senão a vontade robusta? Porquanto há uma diferença enorme entre “eu gostaria” e “eu quero”. Dessa forma, para uma boa vida espiritual, faz-se necessário um bravo vigor, uma vontade determinada.
“Determinada determinação”, dizem os santos, não só para a vida espiritual, mas para a vida como um todo: psicológica, intelectual e temporal. “‘Valde velle’” significa “querer muito”, diz Mons. Tihamer Toth, “duas excelentes palavras em latim que, de alguma maneira, expressam o caminho do caráter. ” Parafraseando-o, assim como o caráter, a vontade determinada não brota de alguns “suspiros sentimentais”, ela resulta de um trabalho perseverante que coloca em jogo todas as energias espirituais.
Vê-se, assim, a importância da vontade determinada para grandes coisas e situações, mas como ela é, também, provada nas pequenas circunstâncias. Quero ter uma vontade robusta nos momentos mais difíceis, em uma provação espiritual, preciso ter uma vontade robusta agora, nas pequenas coisas. Acostume-se a não considerar nada insignificante no tocante à prática do bravo vigor: tudo é necessário.
Outrossim, a vida intelectual exige “dever”, sacrifício, e como já visto, moral e disciplina. Pois bem, no tocante ao dever, a vontade é a força a ser exercitada. No cumprimento sólido do dever há uma enorme força educativa. O contrário é verdade: a fraqueza da vontade é autodestruidora. Para o descumprimento do dever, terrivelmente avassaladora. A causa de quase todos os males, se refletirmos, é uma só: a fraqueza deste vigor nos atos e decisões, isto é, a fraqueza da vontade. A inimiga da determinada determinação é a preguiça, e, assim, é dever de um estudante derrubar o “império da senhora preguiça”. Aliás, o importante para o trabalho intelectual é a constância. Ora, onde a preguiça impera há espaço para a constância? Há espaço, pois, para a vontade?
Portanto, uma alma que sabe exercitar a vontade determinada nas situações corriqueiras, saberá exercitá-la nos momentos mais exigentes, como nos estudos. Por fim, a vida intelectual, ordenada à vida espiritual, exige a tríade iluminada pela luz divina: a prática da moral, da disciplina e da vontade.