A vida intelectual requer muita dedicação, disciplina, métodos e sacrifícios, contudo, nada disso é tão importante se a alma não estiver voltada para Deus, isto é, se não houver vida espiritual.
De acordo com Antonin-Dalmace Sertillanges, em sua obra “A Vida Intelectual”, aquele que pretende trazer luz ao espírito deve “perseverar e ser um predestinado” nos estudos e nos caminhos de Deus, afinal, nenhuma sabedoria pode ser assim compreendida se não se curvar à eterna sabedoria de Deus. Por outro lado, assim como a disciplina é chave importantíssima na vida espiritual, ela também é muito importante para a vida intelectual e é sobre este elo entre o estudante e a vida intelectual sobre o qual será dissertado: a disciplina.
Nas Sagradas Escrituras, base para a vida espiritual, diz que “O frouxo no trabalho é um irmão do dissipador” (Provérbios 18,9). Ora, o contrário faz-se verdade: o firme, enérgico e interessado no trabalho é um irmão da ordem, virtude contrária à dispersão. Essa dispersão está associada ao trabalho sem vontade, desorganizado e, por fim, sem disciplina. Assim, o espírito de zelo, a alma disciplinada, isto é, ordenada, propiciam uma atenção convergente, potência que somente os que lutam pela virtude da ordem verão tornar-se ato.
Nada há de mais desastroso para a alma humana do que a dispersão, uma vez que essa dispersão significa enfraquecer progressivamente todas as áreas da pessoa humana.
A dispersão na vida espiritual leva à preguiça e, cada vez mais, à tibieza; a dispersão na vida psíquica leva à ansiedade generalizada e, consequentemente, à paralização diante das circunstâncias da vida; e a dispersão na vida humana biológica leva à desorganização física, esta que, por sua vez, leva à frouxidão nos trabalhos, causa para ter como fruto a desordem, a dissipação. Dessa forma, como uma alma indisciplinada pode ter uma vida intelectual bem fundamentada? Não é possível que dessa árvore infrutífera colha algum fruto bom, belo e verdadeiro.
Por fim, tomando como base os ensinamentos de Hugo de São Vitor, autor da obra “Opúsculo sobre o modo de aprender e meditar”, relembramos o seu trecho acerca dos estudos e, consequentemente, da leitura na vida intelectual: “A leitura é uma investigação do sentido por uma alma disciplinada”. Dessa forma, compreende-se mais uma vez como somente uma alma disciplinada, ordenada e amparada pelo esforço da vontade poderá ter como fruto uma boa vida intelectual e não ser “irmã do dissipador” como o frouxo.