Paz sobre a terra, justiça e caridade!

“Os olhos são a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será cheio de luz. Mas se os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, se a luz que está em ti são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mt 6,22-23

Nos evangelhos percebemos a delicadeza dos evangelistas em frisarem os olhares de Jesus. Provavelmente assim fizeram para que hoje pudéssemos aprender e imitar O Mestre. Vamos então relembrar alguns olhares de Jesus, refletir um pouco no que Ele nos ensina e como podemos aplicar em nossa vida.

Narram que Jesus “olhou para o céu” para falar com o Pai (Jo 17,1) ensinando seus discípulos a ter intimidade com Deus;  “olhou para o jovem rico” com amor e o convidou ao desapego, mostrou em que ele ainda precisava se converter (Mc 10,21);  “olhou para o enfermo há 38 anos” e lhe convidou a mudar de vida, ordenou que se levantasse daquela situação e não pecasse mais (Jo 5,6); “olhou para os pequeninos rejeitados”, os chamou para perto, abraçou, abençoou e exortou seus discípulos a acolherem as crianças com amor (Mc 10,14). 

Narram também os olhares de Jesus para os mestres da lei e fariseus (Lc 6,10). Olhar cheio de autoridade que os desnudava! Jesus via as más intenções, desordens de seus corações e quebrava seus planos orgulhosos. 

Muitos provavelmente olhavam para os enfermos e os julgavam inúteis, Jesus via por trás das enfermidades um grande chamado, como a cura do paralítico que saiu com sua maca nas mãos glorificando a Deus (Lc 5,20; 22) e a cura da sogra de Pedro que imediatamente se colocou a serviço (Lc 4,38-39). 

Enquanto muitos excluíam a mulher samaritana, a ponto de ela ter que ir sozinha e no horário do meio dia buscar água no poço (Jo 4,29); enquanto outros condenavam a mulher pega em adultério (Jo 8,10-11); enquanto a mulher que sofria há 12 anos com hemorragia era marginalizada, considerada impura e se arrastava sozinha em busca de cura (Mt 9,22); O Mestre Jesus olhou para elas com calma, com profundidade e viu que podiam amar muito! Jesus despertou nelas o que nem elas sabiam de si, o chamado de Deus (Jo 4,34) para serem Virtuosas, Grandes Mulheres. 

Quando a multidão sedenta se comprimia ao redor de Jesus para ouvi-lo, ele teve a calma de olhar ao seu redor e analisar toda a situação. Viu dois barcos, viu Simão provavelmente angustiado pelo fracasso da pescaria e sua grande vocação de ser Pedro (a pedra!). Subiu na barca de Simão Pedro e pediu que se afastasse um pouco da terra, da margem, para depois ensinar a multidão (Lc 5,1-3). 

Que interessante essa atitude de Jesus. Vejamos o quanto ela nos ensina:

Primeiro, não tomar decisões quando uma multidão de pensamentos, sentimentos e situações nos oprime.

Como Jesus devemos nos distanciar, seja de forma física ou psíquica, daquilo que nos agita, angustia, irrita e por consequência pode nos cegar. Depois de tomar distância, olhar com calma, com profundidade, analisar a situação, decidir se deve agir e como, ou não agir. 

Segundo, nos ensina também que não devemos agir da mesma forma com todos. Da multidão Jesus precisou se afastar para ensinar, mas de Simão Pedro precisou ficar bem perto.

Ao tomar distância da multidão Jesus certamente conseguiu ter uma visão melhor, pode lançar o seu olhar de compaixão para todos (Mt 9,36), penetrar os corações, ver suas necessidades e assim ensinar de forma mais adequada. Ao entrar na barca de Simão e ficar mais perto dele, Jesus pode se revelar a ele e chamá-lo a ser o grande pescador de homens.

Nós somos chamados a sermos imitadores de Cristo como filhos queridos (Ef 5,1) então podemos e devemos imitar Jesus. Tomar distância das agitações e dos muitos estímulos que recebemos. Recolher o olhar para que as provocações do dia a dia não nos deixem cegos para o que realmente importa e precisa ser visto. 

Em nossa família mesmo podemos fazer esse exercício e certamente será muito benéfico. 

Olhar com calma para o esposo (a), olhar com calma para os filhos. Ver além das irritações e do cansaço. Enxergar a preciosa vocação que Deus colocou em cada um deles e o presente que são para nós. 

Será que a aparente fraqueza dessa pessoa que está do seu lado não revela uma grande potência? 

Se imitarmos Jesus podemos ajudá-los a ser o que podem e devem ser! 

É preciso recolher o olhar para mantê-lo saudável e olhar com calma, com profundidade, para não ser injusto. 

Fora os muitos exemplos que encontramos nos evangelhos, podemos lembrar de São João Maria Vianney. Um grande santo que inicialmente foi desprezado por aqueles que provavelmente conviveram anos com ele no seminário e, certamente por olharem rápido demais, não perceberam suas riquezas.  

Estamos no advento, tempo propício para expulsarmos as trevas de dentro de nós e da nossa família. O Menino Jesus é a Luz que brilha, ilumina e revela toda beleza, nobreza e verdade. (Jo 8,12)

Façamos então o exercício de recolhermos o olhar e pousá-lo com calma no Divino Menino Jesus. Deixemos que Ele ilumine nossos olhos. Sigamos com Ele para as águas mais profundas e com Ele façamos uma grande pescaria. A começar pelo nosso lar!

Senhor, que eu veja! Lc 18,41


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