Quantos de nós, pais e mães, nos vemos em meio a lavas de um vulcão prestes a entrar em erupção em relação a convivência familiar? As fotos da família unida, os vídeos de natal, dos aniversários, dos passeios, quantas alegrias aos olhos de quem assiste de fora dos muros do lar. No entanto, em muitos casos, encontramos dentro destes lares pais exaustos, desanimados e perdidos com a educação dos filhos. Sentem-se fracassados, parecem falar para os ares. Quantas vezes se repete para recolher a toalha molhada? Quantas vezes se pede para deixar a cama arrumada? Quantas vezes é dito para tratar os irmãos com carinho? A rotina dos pais é assim: dia após dia ensinando e repetindo as mesmas coisas. Porém, titubeados pela irritação, não percebemos que Deus nos permite praticar a melhor virtude para alcançarmos a santidade, a paciência.
Trata-se de uma virtude importantíssima chamada “hypomoné”. Em grego, o prefixo “hypo” significa debaixo, inferior e “moné” significa permanecer debaixo de algo, suportar uma situação. A junção dos dois é a traduzida como paciência ou perseverança.
Estando os pais em estado de graça (na amizade com Deus), buscam pelo objetivo de alcançarem a salvação eterna para sua família, mas existem outros objetivos do cotidiano que podemos chamar de vetores. Estes vetores vão puxar estes pais para baixo, vão desviar a atenção do objetivo central que é a busca por Deus. Logo, os objetivos se misturam, se trombam e vira uma desordem e os pais caem na agitação e na irritação. “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas” (São Lucas 10, 41-42). Estes vetores são as paixões desordenadas, a vida de conversão tem que ser diária. Vemos tantas famílias lutarem pela educação dos filhos e por bons princípios. Lutam, lutam até que chega um momento que estacionam, que não conseguem avançar. É como se subíssemos uma escada e batêssemos no teto, não adianta forçar mais, não vai.
Podemos utilizar aqui uma pequena explicação sobre as moradas dos santos conforme nos ensina Santa Teresa D’Ávila: a primeira morada é aquela pessoa que se converteu, abandonou o pecado mortal e vive os mandamentos de Deus; a segunda morada é quando esta pessoa agrega orações no seu dia a dia, terço, novenas, apostolados, atividades religiosas; na terceira morada, além de tudo o que ela já vem fazendo, ela inclui as penitencias, as mortificações, os jejuns, a comunhão diária, que a levam para uma vida mais séria e regrada, mas, de repente, empacam. Apesar de tudo fazerem, a impressão é de que a vida esta retrocedendo e tudo dá errado. A santidade vai começar mesmo a partir da quarta morada. Mas por que nos perdemos na terceira morada? Porque não estamos sabendo praticar a virtude da paciência. A paciência é o degrau que falta na escada para ultrapassarmos o teto. Quando conseguimos fazer com que a pratica desta virtude torne-se rotina em nossos lares, alcançamos a quarta morada.
“Meu filho, quando entrares ao serviço de Deus, persevera firme na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência […] na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência”. (Eclesiástico, 2.1-4)
Percebemos neste trecho, a ligação entre humilhação e paciência. Esta paciência é a virtude forte por onde se aguenta a dor da espera que seus atos repetitivos se frutifiquem, quem espera vence. E a humildade nos mostra que somos apenas ferramenta nas mãos de Deus.
Quanto mais conseguimos esperar, mais amadurecemos, quanto mais observamos antes de agir, menos erramos. A paciência é essencial para que nossa vida se torne mais virtuosa. Ser paciente significa ter melhor saúde mental, pois com paciência conseguimos enfrentar com calma as frustações e adversidades. Carregamos nas mãos a decisão de enfrentar os embates com irritação ou com calma. Cultivando a paciência, teremos menos aborrecimentos, preocupações, mais serenidade e tranquilidade.
Estudos realizados em 2007 na universidade de Davis, na Califórnia, mostram que pessoas mais pacientes sofrem menos de depressão, pois sabem enfrentar melhor as adversidades da vida, sofrem menos dores de cabeça e de úlceras, e também se demonstram mais atentas e gratas, são melhores amigos e vizinhos, são mais cooperativos, empáticos, justos e complacentes. Esta virtude nos ajuda a alcançar nossos objetivos de maneira ordenada. Na vida, o caminho é longo, e aqueles que querem ver resultados rápidos, podem desistir deste caminho, acarretando em desastres familiares (divórcios, filhos sem regras, mães descompassadas…).
Mas como cultivar a paciência?
Em primeiro lugar, se deve ter uma vida piedosa, e diante da adversidade, reformule a maneira de agir. Se estiver esperando em um consultório médico e sua consulta atrasar, ao invés de se irritar, aproveite para terminar as orações do dia, ler um bom artigo, mandar uma mensagem para um parente que você nunca acha tempo em fazer. Com isso, logo vem o sentimento de gratidão por uma adversidade: “consegui fazer isso devido a este atraso”. Reflita antes de agir, respire fundo e perceba seu sentimento de irritação e a maneira agressiva que iria responder, se deixe perceber pela ótica daquele que receberia seu gesto raivoso “muitas vezes seus filhos ou cônjuge”.
O mundo de hoje está em uma apostasia tremenda, e por causa disso, a perseverança na doutrina católica está quase impossível. O que podem fazer os pais sabendo que seus filhos serão postos neste ambiente? Rezar muito, pedir muito, fazer sacrifícios, oferecer missas pelos filhos, pois a batalha que eles irão travar é colossal. Isso exige um esforço impensável dos pais, e poucos estão dispostos a fazer. Como conseguir que os filhos estejam preparados para isso? É preciso que os pais, e principalmente as mães sejam um espelho da igreja católica, que reflitam bondade e paciência, e ao mesmo tempo sejam fortes e justos, de maneira que seus filhos enxerguem nos pais um outro Cristo. Encham o ambiente de histórias e exemplos do evangelho, impregnem seus filhos de Deus, pois logo chegará o momento de estarem em um mundo que os convida ao contrário, e então lembrem-se dos ensinamentos para se manterem fiéis. Procurem propiciar aos filhos convívios com crianças que tenham famílias com os mesmos princípios, promovam piqueniques com terços, brincadeiras após a missa, etc, isso serve para que as crianças percebam que existem outros iguais a ela, não se sentido sós. Assim eles aprendem a discernirem o certo do errado e se afastar do mal.
Na luta contra o mal, elas perceberão que não somente seus pais lutam, mas também outras crianças buscam os mesmos ideais. Este é o segredo, aproximar crianças homogêneas. Quando crianças más nota uma criança boa isolada, elas as calcam aos pés, mas quando notam um grupo pequeno de crianças boas, essas más se acovardam. Os pais devem até educar os filhos para serem sozinhos, pois na falta de um amigo de boa índole, é preferível se manter só, à perder a alma.
Muitas vezes nós, pais católicos nos sentimos sós, sem amigos e incompreendidos pelos próprios familiares, mas mesmo assim mantemos a coragem e paciência de seguir e enfrentar os tormentos da soledade. Isto deve ser ensinado para os filhos, pois a solidão também é uma via para a salvação eterna. É preciso encorajar este isolamento, até que chegue o momento que o número de isolados isolem a maioria.
Nós podemos ler tudo isso e pensar: é impossível… É verdade, por isso que pouquíssimos conseguem chegar a quarta morada. A paciência perseverante é quase impossível de se conquistar, e Deus só a dá para quem a pede. A partir da conquista desta virtude, começamos a agir de forma divina, com os dons do Espírito Santo. É como olhamos alguém e pensamos: como ela foi capaz de suportar isso? E de imediato notamos que não é ela, mas Cristo que vive nela. Para que isso aconteça, é necessário deixar de ter a agitação de Marta, e iniciar um processo de purificação, conduzindo todos os vetores desordenados e os alinhando para um único objetivo que é Deus. Com a ajuda da graça e seu esforço paciente é possível alcançar a santidade nesta terra.
E depois de toda esta luta, infelizmente temos que saber que iremos bater no teto novamente, e agora não depende mais da gente, somente da misericórdia de Deus. Conseguimos ser as ferramentas que Deus tem nas mãos e agora somente ele nos conduzirá. Nos resta manter a paciência e perseverança, ficando um último conselho: todas as vezes que acharmos que não suportamos mais, que a paciência acabou, imaginemos Nosso Senhor Jesus Cristo na Cruz, nos olhando todo chagado, e assim lembraremos da paciência e mansidão que teve com todos os que O humilharam.
Fontes:
Reunião Dr. Plinio 04/1984 – Como educar os filhos na doutrina católica;
Reunião Dr. Plinio 05/1989 – O homem que Deus ama passa por humilhação;
Jornal Claramente, escrito por Dr. Cesar Vasconcellos, Psiquiatra de 03/2022;
Livro: As sete moradas de Sta. Tereza D’avila Editora Ecclesiae
Uma resposta
Os modelos de mães e de pais católicos nos auxiliem no exercício da paciência, que é a forma mais comum da virtude da fortaleza. Existem situações que só a virtude não basta, é preciso que o dom da fortaleza nos guie. Sirva-nos de exemplo os pais de Santa Terezinha com Leonia, a Sra Da Lucília com suas cruzes familiares, e outros que dimanam das pessoas santas.