Há muitos séculos, num país distante, havia uma cidade feliz, onde habitava um povo bom que praticava os Mandamentos do Senhor e vivia em paz. Os Príncipes cuidavam de seus súditos, os Sacerdotes viviam na permuta de bons ofícios com os Príncipes, e por toda parte se espalhava o fecundo orvalho do Evangelho.
Deus amava muito esse povo e tudo ia bem, para as condições próprias da época e do lugar. Mas o Senhor queria dar mais. Suscitou então um homem providencial e sobre ele derramou graças abundantes, para que fossem espargidas sobre a cidade que ele amava. No entanto, entre a generosidade e o egoísmo, esse homem marcado por Deus preferiu ceder às suas más inclinações. O Senhor ficou muito desagradado com isso, e permitiu que o inimigo penetrasse as muralhas e invadisse a cidade.
O inimigo odiava a cidade de Deus, queria destruí-la. Logo percebeu que não poderia fazer isso de um só golpe, então arquitetou um plano: começou por amolecer os habitantes da cidade, tornando-os saudosos dos tempos antigos e desejosos de mudanças, foi aos poucos deslocando Deus do centro e introduzindo o homem. O inimigo viu que isso era mau e chamou essa primeira revolta de Humanismo e de Renascença.
Aproveitando as novas tendências, o inimigo foi minando nos habitantes da cidade o amor à Religião e acabou por introduzir a cizânia e a contradição, que no momento oportuno eclodiu em um primeiro brado de ódio: Cristo sim, a Igreja não! O inimigo viu que isso era mau e chamou essa Primeira Revolução de Protestantismo.
O germe de revolta acabou por dividir a cidade que era amada por Deus, foi criando condições para que seus habitantes perdessem a admiração e o respeito por seus Príncipes, crescia a volúpia e a frivolidade, o senso de hierarquia era abalado pelo anseio de igualdade. Ouve-se o segundo brado de ódio: Deus sim, Cristo não! O inimigo viu que isso era mau e chamou essa Segunda Revolução de Francesa, porque foi nesse país que se instalou o ódio à nobreza e o culto da razão.
Com as tendências igualitárias penetrando os habitantes da cidade que tinha sido amada por Deus, deu-se uma corrosão profunda nos espíritos facilitando a realização do passo seguinte do inimigo: investir contra as diferenças econômicas, incitando pobres contra ricos no anseio de estabelecer uma sociedade igualitária. O terceiro brado de ódio: Deus está morto! Ou mesmo Deus jamais existiu! E o inimigo viu que isso era mau e chamou essa Terceira Revolução de Comunismo.
Nessa altura, muito mais célere se tornou o processo de destruição da cidade, passando as investidas contra as profundas desigualdades criadas por Deus no interior dos homens, abrangendo aspectos psicológicos, mentais e espirituais. Era o brado de ódio contestando a ordem da criação do homem “à imagem e semelhança de Deus”. E o inimigo viu que isso era mau, porque queria destruir a imagem de Deus nos habitantes da cidade, e chamou essa Quarta Revolução de Sorbonne, revolução cultural nascida nas arcadas da famosa Universidade.
O que mais falta ao inimigo destruir? Da cidade que Deus amava restam apenas ruínas. Na nova cidade, em toda parte impregnam o odor fétido do orgulho e os miasmas pútridos da sensualidade. O que mais quererá o inimigo, chamado demônio, senão que os homens reconheçam o seu reino de trevas; que diante dele se prostrem e o adorem?
Quando tudo parece perdido, é hora da intervenção divina. Precisamente esse triunfo a Santíssima Virgem veio anunciar em Fátima: “Por fim, o meu Imaculado Coração Triunfará!” No Reino de Maria surgirá qual vinho novo (São João, II, 1-11), uma sociedade admiravelmente superior a tudo o que possamos imaginar, diante da qual a antiga cidade será sem brilho! Lírio nascido no lodo, durante a noite e sob a tempestade!
Deus não suscitará também para a nossa época homens providenciais, que sensíveis aos sinais dos tempos, percebam que é chegada a hora de Deus? Nessa perspectiva, rezemos como no Salmo: “Levanto meus olhos para ti, que habitas nos céus. Assim como os olhos dos servos estão fixos nas mãos dos seus senhores, e os olhos da escrava nas mãos de sua senhora, assim nossos olhos estão fixos na Senhora, Mãe nossa, até que Ela tenha misericórdia de nós” (122, 1-2).